Douradinho sai e volta para a caverna
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Douradinho sai e volta para a caverna

A principal referência para a construção da narrativa “Amiga Lata, Amigo Rio” é certamente o mais conhecido texto do filósofo grego Platão. O Mito da Caverna, como é mais conhecido, ou Parábola da Caverna, ou ainda Alegoria da Caverna, encontra-se na obra A República, e fala como podemos nos libertar da escuridão da ignorância que nos aprisiona por meio da luz da Verdade.


Platão fala que nascemos e crescemos voltados para as paredes do fundo de uma caverna. Entre nós e a saída, a luz de uma fogueira projeta sombras nas paredes de coisas que se passam as nossas costas, mas que não conseguimos ver diretamente, pois estamos acorrentados e obrigados a ver somente as sombras da realidade. Quando um de nós, o filósofo, se liberta das amarras e enfim sai da caverna, alcançando o conhecimento da Verdade, é sua obrigação voltar-se novamente para a escuridão, na tentativa de atrair mais pessoas para a Luz.



O Mito da Caverna é uma metáfora da condição humana, fala da busca pelo conhecimento por meio da educação, do combate à ignorância. Demonstra a passagem do senso comum para o conhecimento filosófico racional e organizado, com respostas baseadas na causalidade, não no acaso.


No início de Amiga Lata, Amigo Rio, o cascudinho está imerso na escuridão e ignorância do rio poluído. Ele não sabe o que é um homem, uma árvore, ou o que agride tão fortemente seu meio ambiente... Enfim, apenas sobrevive sem questionar a realidade a sua volta. Depois que a latinha brilhante se prende em sua barbatana, a latinha sendo uma metáfora para a luz da razão, ele inicia sua aventura em busca da nascente do rio, ou melhor, em busca do conhecimento.


Douradinho é o filósofo em busca da Verdade. Quando chega na nascente do rio, já detentor de todo conhecimento capaz de reverter a situação que faz agonizar seu meio ambiente, ele se volta novamente para a parte escura, poluída do rio, na tentativa de atrair mais companheiros para a luz.


Ao voltar-se para a escuridão, como todo filósofo detentor do conhecimento, Douradinho corre grande risco de vida, pois a luz da verdade incomoda muito os olhos dos que não estão preparados para ela. “Amiga Lata, Amigo Rio” deixa para o leitor imaginar o destino do Douradinho como propagador desta luz. Gosto de pensar que, apesar dos muitos perigos que ele encontra, depois de tantos anos de jornada, nosso peixinho já possui uma legião de parceiros leitores que, ao seu lado, compartilham e divulgam os saberes transformadores e revolucionários que farão a humanidade reconectar-se com a mãe terra.

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