Um estalo: como o Douradinho nasceu?
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Um estalo: como o Douradinho nasceu?



Como você criou o Douradinho? Olha, devo ter escutado esta pergunta pelo menos 1 milhão de vezes nos últimos 18 anos. É certo que sem a ideia do peixinho cascudo e sua latinha dourada nada teria existido, nem livro “Amiga Lata, Amigo Rio”, nem Projeto Douradinho, o que faz a resposta para esta pergunta algo fundamental.


O que eu acho mais interessante no processo criativo são as conexões inusitadas que nosso cérebro faz, e que podem nos levar a lugares novos, surpreendentes. O personagem cascudo Douradinho nasceu em um desses cliques, de uma mistura de memórias, pesquisas e sentimentos.


Lá em 2001, quando decidi escrever uma história que falasse dos rios e seus problemas, mergulhei em arquivos de jornais e bibliotecas para pesquisar sobre o tema. Notem que a internet era muito ruim, com conteúdo ralo, e eu nem conhecia o Google ainda! Nestas pesquisas me chamou atenção o peixe cascudo, por sua presença em grande parte dos rios brasileiros e por suas características físicas, sua resistência e aparência jurássica.


Refleti muito sobre como o peixe de água doce é retratado na cultura pop, em desenhos e livros. Com certeza você também tem impresso na memória a imagem do peixinho dourado em seu aquário redondo. Aí está a imagem da beleza, da fragilidade, artificialidade e, de certa forma, da cafonice que os peixes de água doce ocupam no imaginário de nosso senso comum.


Numa busca por uma imagem diferente do peixe de água doce na minha memória, me veio uma lembrança antiga.... Algo que poderia ter deixado para o esquecimento, mas que inexplicadamente ficou. Dois amigos conversavam sobre pescaria. Um deles disse que no dia anterior tinha pescado um Dourado “deste tamanho” no rio Paraíba do Sul, rio que corta minha cidade natal, Barra Mansa - RJ. Rindo, o outro amigo disse que aquilo só podia ser conversa de pescador. Afinal, o rio estava tão poluído, que a única coisa dourada a ser pescada ali seria, certamente, uma latinha de cerveja.


Esta lembrança, quando veio a tona, uniu as outras pontas. O peixe cascudo, de aspecto grotesco, caiu como uma luva na minha vontade de inverter o senso comum, de quebrar o aquário redondo.


Aí está o estalo que deu vida ao nosso cascudinho.

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